A quantidade de homens de meia idade que obtém prescrições de
testosterona vem crescendo rapidamente. Isso eleva a preocupação de que
um número cada vez maior de homens esteja usando de forma imprópria esse
potente hormônio, para aumentar a libido e sentir-se mais jovem,
relataram pesquisadores na última segunda-feira.
A terapia de reposição de testosterona é autorizada somente no
tratamento o hipogonadismo, ou redução anormal nos níveis de
testosterona. Esse hormônio ajuda a aumentar a massa muscular, reduzir a
gordura corporal e aumentar a libido. Um estudo publicado no periódico
JAMA Internal Medicine, porém, descobriu que muitos homens recebem
prescrições para o hormônio sem que seja comprovada essa deficiência.
O estudo recente é o maior realizado até agora sobre padrões de
prescrição de testosterona e incluiu aproximadamente 11 milhões de
pessoas do sexo masculino, que foram monitorados por meio de uma
seguradora de saúde de grande porte. O relatório demonstrou que o número
de homens idosos e de meia-idade que recebeu receitas do hormônio
triplicou a partir de 2001.
Os homens na faixa dos 40 constituem o grupo de usuários cujo uso tem
aumentado mais rapidamente. Entre os homens que receberam prescrições de
testosterona, aproximadamente metade havia recebido o diagnóstico de
hipogonadismo, e cerca de 40 por cento tinham disfunção erétil ou
sexual. Um terço tinha recebido o diagnóstico de fadiga.
A Sociedade de Endocrinologia dos Estados Unidos, associação de médicos
que estabelece as diretrizes para a terapia de reposição de
testosterona, recomenda o tratamento apenas para os homens que possuem
níveis claramente baixos de testosterona. Para que esses níveis sejam
descobertos é necessária a realização de um exame de sangue. O novo
relatório, porém, descobriu que um quarto dos homens não realizou o
exame antes de receber o hormônio. Também era incerta a porcentagem de
homens que realizou o exame e apresentou deficiência hormonal.
A terapia com testosterona pode engrossar o sangue, causar acne e
reduzir a contagem de espermatozoides. Muitos médicos também temem que a
terapia aumente o risco de doenças cardíacas e câncer de próstata.
Alguns especialistas, porém, afirmam não existir comprovações para tais
afirmações. Jacques Baillargeon, principal autor da nova pesquisa,
afirmou que a segurança do uso de testosterona no longo prazo ainda
precisa ser demonstrada em estudos de qualidade.
"Eu acredito que esses homens relativamente saudáveis que começaram a
receber testosterona aos 40 anos talvez fiquem expostos por um período
de tempo muito grande e não sabemos quais são os riscos envolvidos",
afirmou Baillargeon, professor adjunto de epidemiologia do departamento
médico da Universidade do Texas, em Galveston.
Os níveis de testosterona normalmente começam a diminuir de forma
gradual após os 30 anos. Para a maioria dos homens, o nível médio varia
de 300 a 1000 nanogramas por decilitro de sangue. Mas esse nível pode
oscilar muito de acordo com diversos fatores: sono, hora do dia,
medicação. Em muitos homens, o nível atinge o intervalo que caracteriza o
hipogonadismo em um dia e normaliza no dia seguinte.
Alguns estudos estimam que até 30% dos homens entre 40 e 79 anos possuam
uma deficiência hormonal real, embora apenas uma pequena porcentagem
desenvolva de fato sintomas clínicos como depressão, ondas de calor e
disfunção erétil.
O Dr. Ronald S. Swerdloff, endocrinologista da Universidade da
Califórnia, em Los Angeles, e um dos autores das diretrizes de
tratamento da Sociedade de Endocrinologia, afirmou que as recomendações
são "muito claras" em relação ao fato de que o tratamento se destina a
homens cujos exames de sangue comprovem uma deficiência de testosterona e
que apresentem os sintomas do distúrbio. "Eu não acredito que seja
adequado o paciente receber tratamento para hipogonadismo sem a
comprovação por meio de exame", afirmou.
O Dr. Abraham Morgentaler, professor de urologia da Faculdade de
Medicina de Harvard e autor de Testosterone for Life ('Testosterona para
a Vida'), afirmou que as descobertas são um sinal positivo de que a
deficiência de testosterona está sendo diagnosticada e tratada. Embora
muitos médicos se preocupem com os efeitos colaterais do uso excessivo
de testosterona, alguns estudos demonstraram que homens com níveis
baixos desse hormônio têm expectativa de vida reduzida e risco maior de
contrair diabetes, doenças cardíacas e osteoporose, afirmou.
"O envelhecimento está associado a problemas de visão, audição e
dentários, bem como problemas nas artérias e articulações, além de
câncer - e nós lidamos com todos eles", afirmou Morgentaler. "Eu acho
que é uma limitação injusta afirmar que, porque algo é comum ou natural,
não deva ser tratado."
New York Time
Nenhum comentário:
Postar um comentário