1.12.2014

Copa no Rio

Corrida contra o tempo, a cinco meses da Copa do Mundo

Rio tem pressa em concluir obras essenciais para sediar evento. Fifa já criticou o Brasil por atrasos

Christina Nascimento
Rio - Faltando cinco meses para a Copa do Mundo, o Rio corre contra o calendário apertado para cumprir a tempo os compromissos prometidos para a realização do evento. São três ‘responsabilidades’ que a capital carioca assumiu com a Fifa para a competição: implantar o corredor de ônibus Transcarioca, reformar o Estádio do Maracanã e seu entorno (com a criação de uma estação para passageiros de trem e metrô) e reestruturar o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, o Galeão.
De todas as obras, esta última é a que mais corre risco de ficar apenas no papel — o cronograma chegou a atrasar mais de dois anos. As mudanças, por exemplo, no Terminal 1 já deveriam estar prontas há um ano e quatro meses. A nova data para a conclusão é abril, segundo a Infraero.
No Terminal 2 do Galeão, reforma só deve ficar pronta em abril
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia
No Terminal 2, onde apenas um elevador estava funcionando na última quinta-feira e malas de dezenas de passageiros que tiveram um voo cancelado formavam uma fileira no saguão, a situação não é diferente. Pelo calendário inicial, as intervenções deveriam ter sido executadas até abril de 2011. Mas não ocorreram. A previsão agora também é para o mês de abril.
O sistema de pistas está passando por reparos e, assim como ocorre nos outros setores do aeroporto, há atrasos. A conclusão deveria ter ocorrido em outubro. Agora, a promessa é para o mês que vem. Atualmente, o Galeão tem capacidade para atender 17,4 milhões de passageiros por ano. A demanda prevista para 2014 é de 18,9 milhões. Se, de fato, ocorrer a conclusão dos trabalhos no Terminal 2, o aeroporto poderá receber mais 13 milhões de pessoas. No entanto, quem frequenta o local tem poucas esperanças de mudanças.

“O ar-condicionado simplesmente não funciona. Acho um absurdo ter um aeroporto internacional em que isso ainda ocorre. O Galeão pode até receber turistas na Copa, mas, do jeito que está agora, vai fazer isso muito mal”, reclamou a fisioterapeuta Mariana Costa. Produtora de uma TV europeia, Luciana Azeredo teme pelo que possa ocorrer. “Teve um dia que o aeroporto estava tão lotado que simplesmente não havia lugar para as pessoas sentarem. Elas se acomodavam no chão mesmo.”

Concluir o corredor de ônibus da Transcarioca é um dos desafios
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia
No assunto mobilidade, os riscos de um vexame na Copa também não estão descartados, apesar da garantia do governo do estado de que a estação multimodal do Complexo do Maracanã estará pronta até a competição. 
A estrutura terá cinco plataformas de embarque e desembarque, sendo três para atender os passageiros da Supervia e duas para os usuários do metrô. O estado afirmou que 90% das fundações já foram concluídas. O Portal da Transparência do governo federal mostra maio como prazo de entrega.
Na semana passada, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez críticas à forma como o Brasil tem conduzido os preparativos para a Copa. Em entrevista ao jornal suíço ‘24 Heures’, ele disse que o país é o que apresentou mais atrasos desde que começou a trabalhar na federação, há sete anos.
Turistas encontrarão Museu do Índio abandonado
Pivô de uma série de protestos, o prédio do Museu do Índio não vai ganhar um novo visual até a Copa. Os turistas que forem ao Estádio do Maracanã vão se deparar com a estrutura abandonada. Isso porque, em função das alterações nas obras, a Concessionária Maracanã vai revisar o cronograma para o local.
Com isso, os projetos básicos — que dão o escopo para as intervenções — podem ser apresentados ao estado em um prazo de até dois meses, contados a partir da última semana. Com a aprovação, a empresa tem ainda mais três meses para definir o programa de execução.
Imóvel será transformado em um Centro de Referências das Culturas Indígenas, mas cronograma será revisado pela Concessionária Maracanã
Foto:  Alexandre Brum / Agência O Dia
O imóvel será transformado em um Centro de Referências das Culturas Indígenas. Mas essa mudança não está na matriz de responsabilidades da cidade para a Copa. Também não é exigência da Fifa a construção de vagas de estacionamento sobre a linha férrea, ou em área próxima ao estádio. Por isso, a obra só vai ficar pronta depois da competição.
No BRT Transcarioca, é preciso acelerar
Orçado em R$ 1,7 bilhão, o Transcarioca está previsto para o primeiro semestre. O corredor, que vai ligar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional do Galeão, também não fugiu do atraso. A prefeitura chegou a anunciar que a primeira fase do BRT entraria em funcionamento no ano passado. De acordo com a Secretaria Municipal de Obras, para a conclusão da obra, falta a finalização da implantação do pavimento rígido em alguns trechos e o término da instalação das estações de embarque e desembarque de passageiros.

O município terá que correr. Algum construções, como a ponte estaiada da Ilha do Governador e os viadutos sobre a Estrada do Galeão e do Terminal 1 do aeroporto internacional, ainda estão ainda em fase de execução. “Espero que o corredor não seja concluído de qualquer jeito, às pressas, como o Transoeste, porque depois é o dinheiro público que é usado para consertar os reparos malfeitos”, criticou a universitária Flávia Muniz, 25 anos.
Na semana passada, O DIA mostrou que o Transoeste, inaugurado há um ano e meio, já tem 270 remendos na pista. A manutenção é paga pelo município, uma vez que o prazo de garantia dado pela construtora Odebrecht já expirou.
O Transcarioca vai passar por Barra da Tijuca, Curicica, Ilha do Governador, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Penha, Olaria e Ramos. Cerca de 440 mil passageiros devem andar diariamente no corredor, que terá 45 estações e 39 quilômetros de extensão.

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