9.29.2011

A cada ano, 102 adolescentes entre 10 e 14 anos cometem suicídio no Brasil

Comportamento

Segundo membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, crescem as internações por tentativa de suicídio de adolescentes entre 13 e 14 anos

Natalia Cuminale
Movimentação em frente a Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, onde aluno de 10 anos atirou em professora e contra sua própria cabeça em São Caetano do Sul Movimentação em frente a Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, onde aluno de 10 anos atirou em professora e contra sua própria cabeça em São Caetano do Sul (Adriano Lima/Fotoarena)
Em 2009, 106 adolescentes entre 10 e 14 anos cometeram suicídio no Brasil, de acordo com o dado mais recente do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Nos últimos 14 anos, foram 1.437 mortos, nessa faixa etária, 102 em média por ano. Entre os jovens de 15 a 19, o número é mais de cinco vezes maior: 566 em 2009. Apesar de raros, casos como o suicídio do estudante D.M.N., de 10 anos, que atirou em si próprio após disparar contra a professora Roliseide Queiros de Oliveira, na última quinta-feira, em São Caetano do Sul, não são isolados.
"Infelizmente, agredir professores é algo comum entre as crianças, mas a autoagressão é um fato inesperado", diz Ricardo Nogueira, membro da comissão de prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Nogueira afirma, contudo, que a observação clínica demonstra um crescimento de internações de crianças com 13 e 14 anos de idade por tentativa de suicídio. Sem dados preliminares, o levantamento está sendo feito no Hospital Mãe de Deus, no Rio Grande do Sul, estado que registra um dos maiores índices de suicídios do país.

Nos Estados Unidos, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens com idades entre 10 e 24 anos, com cerca de 4.400 óbitos registrados por ano. No Brasil, 25 pessoas se matam por dia – tornando o país o 11º colocado no ranking mundial de suicídios, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Dessas 25, duas são crianças e adolescentes de até 19 anos.

Fatores de risco para o suicídio

Saiba quais pontos devem ser observados por pais e professores:

  1. • Histórico de tentativas anteriores de suicídio
  2. • Depressão ou outros distúrbios mentais
  3. • Abuso de álcool e drogas
  4. • Perda ou algum fator recente de stress
  5. • Fácil acesso a métodos letais (como armas, venenos, etc)
De acordo com Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, a arma de fogo é o principal método utilizado pelos jovens suicidas, com 46% dos casos, seguido por sufocamento (37%) e envenenamento (8%). A arma usada no crime ocorrido em uma escola de São Caetano do Sul era um revólver calibre 38 que pertencia ao pai da criança, um guarda civil municipal.
Prevenção — Mais jovens sobrevivem mais a tentativas de suicídio do que de fato morrem. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com estudantes de escolas públicas e privadas entre 9 e 12 anos mostrou que 15% dos alunos consideram seriamente cometer suicídio, 11% disseram ter criado um plano de ação e 7% tentaram tirar a própria vida nos 12 meses que antecederam a pesquisa. O departamento de emergência americano recebe cerca de 149.000 jovens entre 10 e 24 anos com ferimentos de autoflagelo.
Prevenir o suicídio é uma função da família e também da escola, explica Nogueira. "Precisamos criar uma rede de prevenção ao suicídio. Muitos pais chegam tarde do trabalho e quase não convivem com seus filhos. Por isso, a escola tem um papel fundamental”. No material escolar de D.M.N., havia um autorretrato desenhado pelo estudante no qual ele aparecia segurando duas espingardas cruzadas na frente do corpo. Ao lado, havia o desenho de um homem e a palavra “professor”.
Entre os principais fatores de risco para o suicídio estão depressão, histórico familiar de tentativa de suicídio e abuso de álcool e drogas. "É preciso lembrar que a criança depressiva não tem atitudes parecidas com a do adulto. Em geral, ela fica agressiva e não suporta a depressão", diz Nogueira. "As famílias precisam vencer o preconceito e levar as crianças ao psiquiatra se for necessário. Se não adotarmos a conduta de tratar adequadamente, vamos ver mais casos desse tipo."
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