10.01.2011

Aprecie com moderação

Bebidas alcóolicas

Da melhora do sistema cardiovascular à redução do risco de asma: cada vez mais pesquisas revelam os ganhos que traz o consumo moderado de álcool

Vivian Carrer Elias
vinho Vinho: bebida traz vários benefícios à saúde graças a uma substância chamada resveratrol (Thinkstock)
O consumo de álcool, ao longo da história, sempre foi associado à saúde. Embora o alcoolismo seja um problema gravíssimo de saúde pública, consumido moderadamente, o álcool pode ser um aliado no combate a diversas doenças. Nos últimos anos, várias pesquisas observaram os benefícios que um consumo moderado de bebida alcoólica pode trazer. A redução de risco de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, artrite e asma são alguns deles, junto com a melhora do quadro de diabetes e o aumento do nível de HDL, ou "colesterol bom", no sangue.
É importante ressaltar, porém, que nenhum estudo relacionou esses benefícios à ingestão de grandes quantidades de bebida alcoólica — pelo contrário, o consumo em excesso só oferece prejuízos à saúde. As vantagens vêm somente com uma ingestão moderada. Para o cardiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Protásio Lemos da Luz, essa quantidade corresponde a cerca de 30 gramas de álcool por dia, o mesmo que uma ou duas taças de vinho. Também é importante lembrar que muitas dessas pesquisas são de observação, ou seja, analisaram os benefícios em pessoas que consumiram determinada quantidade de álcool, mas não explicam os mecanismos do organismo que levaram a tal.
Existem, contudo, pistas de como o álcool atua no organismo. O que já se sabe é que ele acarreta dilatação dos vasos e aumento do chamado colesterol "bom", o HDL. Essas ações melhoram a função vascular, já que os vasos dilatados se tornam mais flexíveis e resistentes. Além disso, o HDL não deixa as plaquetas se acumularem no sangue, evitando infartos. Esses fatores podem explicar estudos que associam redução do risco de doenças cardiovasculares, melhora do colesterol e de problemas inflamatórios ao consumo de bebida alcoólica. (continue lendo a reportagem)

O que dizem as pesquisas

Os últimos estudos sobre os benefícios do 

álcool comentados por especialistas

Consumo moderado de álcool 

pode reduzir risco de asma

Instituição: Hospital Bispebjerg, Dinamarca

Publicação: Congresso Anual da Sociedade
Respiratória Europeia de 2011

Como foi feita: 19.349 irmãos gêmeos entre 12 e 41 anos
responderam a um questionário do começo ao fim do estudo,
que durou oito anos. Entre o grupo que teve consumo
moderado do álcool, ou seja, entre uma e seis unidades
por semana de bebida alcoólica, menos de 4%
desenvolveram asma.
Quem bebia raramente ou nunca bebia
apresentou 1,4 vez a mais de chance de desenvolver
a condição; os que bebiam exageradamente
desenvolveram 1,2 vez chance a mais de desenvolver a doença.
Opinião do especialista: "Essa foi a primeira vez que
eu soube da relação entre consumo de bebida alcoólica
e asma. Trata-se de uma sugestão, e não de uma
demonstração científica clara, já que o estudo não
foi controlado. É válida pois foi feita com gêmeos,
que possuem genes parecidos, mas mesmo assim
eles possuem hábitos diferentes que podem, ou não,
ter influenciado no estudo." – Dr. Protásio Lemos da
Luz, professor titular da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo.
Curva em J — O vinho tinto é uma das bebidas mais
associadas, se não a mais, a tais benefícios.
Isso não acontece é à toa. Além do teor alcoólico,
possui um componente químico chamado resveratrol,
que vem da casca de determinados tipos de uva, mas
também pode ser encontrado no mate, em chás,
na cebola e na maçã. Além de, como o álcool,
melhorar a função vascular, tem função antioxidante
(combate o envelhecimento das células) e ajuda a manter
o organismo mais saudável. “Com a idade,
o metabolismo das pessoas se desacelera, se oxida.
As substâncias antioxidantes atrasam esse processo”,
explica o mastologista chefe do Instituto do
Câncer do Estado de São Paulo, José Roberto Filassi.
O cardiologista Protásio Luz explica que os estudos
sobre álcool obedecem a uma "curva em J":
quem bebe muito morre mais; mas os abstêmios
apresentam, geralmente, maior mortalidade do que
aqueles que bebem pouco. Ele, junto a um grupo do
Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor),
realizou um estudo com ratos no começo do ano,
dividindo os animais em três grupos. O primeiro
grupo recebeu vinho tinto, o segundo recebeu uma
baixa quantidade de resveratrol e o terceiro uma
grande quantidade da substância.
(continue lendo a reportagem)
A pesquisa observou que os animais que ingeriram
vinho e quantidades pequenas de resveratrol apresentaram
melhora na função vascular e fizeram mais exercícios físicos.
Os que receberam doses altas de resveratrol, por outro lado,
não apresentaram melhoria alguma na condição vascular.
“Não podemos dizer, nesse caso, que o resveratrol fez mal,
ele simplesmente não fez bem. A proteção da bebida
alcoólica se restringe, portanto, a uma quantidade moderada”.
Mas para o álcool se tornar um aliado da saúde,
afirma o cardiologista Protásio Luz, não basta seu
consumo moderado. "É preciso mudar o estilo de vida",
afirma. Para ele, o ideal é controlar o peso, seguir uma
dieta alimentar saudável e não fumar.
"Com tudo isso em dia, o consumo moderado
de álcool revelará seus benefícios."

Não é para você

Apesar de a bebida alcoólica, com moderação, proporcionar benefícios para a saúde, ela não é indicada para todos. Existem pessoas que não devem ingerir quantidade alguma de álcool, já que os prejuízos são muito maiores do que as vantagens. Sinal vermelho para quem tem os seguintes problemas:
Doença hepática alcoólica: é a inflamação no fígado causada pelo uso crônico do álcool. Principal metabolizador do álcool no organismo, o fígado é lesionado com a ingestão de bebidas alcoólicas.

Cirrose hepática:
o álcool destrói as células do fígado e é o responsável por causar cirrose, quadro de destruição avançada do órgão. Pessoas com esse problema já têm o fígado prejudicado e a ingestão só induziria a piora dele.

Triglicérides aumentado:
o triglicérides é uma gordura tão prejudicial quanto o colesterol, já que forma placas que entopem as artérias, podendo causar infarto e derrame cerebral. O álcool aumenta essa taxa. Portanto, quem já tiver a condição deve manter-se longe das bebidas alcoólicas.

Pancreatite: a doença é um processo inflamatório do pâncreas, que é o órgão responsável por produzir insulina e também enzimas necessárias para a digestão. O consumo exagerado de álcool é uma das causas dessa doença, e sua ingestão pode provocar muita dor, danificar o processo de digestão e os níveis de insulina, principal problema do diabetes.

Úlcera: é uma ferida no estômago. Portanto, qualquer irritante gástrico, como o álcool, irá piorar o problema e aumentar a dor.

Insuficiência cardíaca: por ser tóxico, o álcool piora a atividade do músculo cardíaco. Quem já sofre desse problema deve evitar bebidas alcoólicas para que a atividade de circulação do sangue não piore.

Arritmia cardíaca: de modo geral, ele afeta o ritmo dos batimentos cardíacos. A bebida alcoólica induz e piora a arritmia.               


Redobre a atenção

Há também aqueles que devem ter muito cuidado ao beber, mesmo que pouco.Tudo depende do grau da doença, do tipo de remédio e do organismo de cada um.

Problemas psiquiátricos: o álcool muda o comportamento das pessoas e pode alterar o efeito da medicação. É arriscada, portanto, a ingestão de bebida alcoólica por aqueles que já têm esse tipo de problema.

Gastrite: é uma fase anterior à úlcera e quem sofre desse problema deve tomar cuidado com a quantidade de bebida alcoólica ingerida. Como pode ser curada e controlada, é permitido o consumo álcool moderado, mas sempre com autorização de um médico.

Diabetes:
Todos os diabéticos devem ficar atentos ao consumo de álcool. A quantidade permitida dessa ingestão depende do grau do problema, dos remédios e do organismo da pessoa. Recomenda-se, se for beber, optar por fazê-lo antes ou durante as refeições para evitar a hipoglicemia.

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