Consumo de álcool por adolescentes cresce e inspira serviço médico especial
No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, pais receberão orientação de profissionais
SÃO PAULO - O sinal de alerta soou no Pronto Socorro de pediatria do
Hospital Albert Einstein, um dos mais conceituados de São Paulo. Há
cerca de um ano, os pediatras de plantão passaram a ser chamados para
atender adolescentes que chegam na emergência, principalmente às sextas e
sábados. O problema: consumo excessivo de álcool. Muitos meninos e
meninas chegam inconscientes. Alguns, em coma, correm o risco de morrer.
Embora não existam estatísticas precisas, especialistas dizem que o
aumento do consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes não se
restringe a São Paulo, é visível no Rio e em muitas outras cidades do
Brasil.
No Albert Einstein, todos os pacientes com 16 anos ou menos e que dão entrada pelo pronto-socorro são encaminhados à pediatria que, a partir deste mês, tem um protocolo especial de atendimento. Os cuidados não são apenas clínicos. Os pais são orientados sobre os riscos do consumo de álcool na adolescência. Nos casos mais graves, em que o jovem fica internado ou precisa de recursos de UTI, ele obrigatoriamente é avaliado por psiquiatras e psicólogos do Núcleo de Álcool e Drogas do hospital.
- Os pediatras perceberam que se tornou comum o atendimento a pacientes alcoolizados em idade muito precoce, com 13 ou 14 anos. Há casos de crianças de 12 anos. Eles chegam com intoxicação grave causada pela ingestão de álcool. Isso nos preocupa muito. É preciso detectar o que está acontecendo - afirma a psiquiatra Alessandra Maria Julião, do Núcleo de Álcool de Drogas do hospital.
O problema é reflexo do que acontece nas ruas. Baladas atraem jovens da classe A e B, com festas em que a bebida alcoólica é o chamariz. Sempre em grupo, eles são influenciados pelos amigos a deixar o refrigerante de lado e consumir o álcool já incluído no preço.
Há 15 dias, X., de 16 anos, foi a uma boate com amigos. Depois de ir ao banheiro, retornou à pista e, ao ver um rapaz de costas, avançou sobre ele, desferindo-lhe socos na cabeça. Os amigos do rapaz agredido passaram a bater em X., e os amigos de X. entraram na briga. Na semana passada, X. foi levado pelos pais ao consultório do psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química, professor da USP e presidente do Centro de Informação Sobre Saúde e Álcool (Cisa). O médico perguntou o que tinha acontecido.
- Ele disse que nunca tinha visto o outro antes, que foi uma bobagem: “Veio a vontade e fiz” - conta Andrade.
O especialista não identificou qualquer distúrbio grave no adolescente. O que lhe chamou a atenção foi que, naquela noite, X. havia ingerido muitas latinhas de cerveja. Para ele, o rapaz se encaixa no "padrão binge”, caracterizado pelo consumo excessivo em curto espaço de tempo: cinco doses - ou cinco latinhas, considerando idade e peso - num período de duas horas. Para as mulheres, o “binge” ocorre antes, a partir de quatro doses.
Todos são unânimes em afirmar que, nas baladas, há bebida alcoólica de sobra, a despeito das proibições previstas em lei.
- É um novo modelo de juventude, com muita liberdade para o álcool e o sexo. A balada é o novo local da paquera e eles estão expostos - diz Andrade.
O psiquiatra afirma que nenhum adolescente procura ajuda médica por causa do álcool. Em geral, vão ao consultório levados pelos pais, para tratar de outro problema associado, como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico.
- Tenho ainda um número razoável de pacientes com distúrbio de comportamento - diz.
Na adolescência, os neurônios se multiplicam. Segundo Andrade, exposto ao álcool, o cérebro vai amadurecer de forma menos eficiente. O raciocínio na fase adulta não será tão rápido:
- O rendimento acadêmico, sexual e social se tornará pior.
A psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), diz que no Brasil as bebida alcoólicas são baratas, e facilmente encontráveis. Os pais, por sua vez, não se sentem à vontade para proibir os filhos de consumi-las:
- Não dá para culpar os pais. Não somos como a sociedade chinesa, na qual os pais têm um alto nível de autoridade sobre os filhos. É preciso políticas públicas para enfrentar o problema.
No debate sobre o consumo de álcool na adolescência, tem chamado a atenção de Ilana o comportamento das meninas. Enquanto na fase adulta as mulheres bebem menos do que os homens, na adolescência, atualmente, elas estão consumindo o mesmo número de doses.
- É impressionante como elas bebem loucamente! Vão ao consultório por outros problemas, como ansiedade, mas, quando a gente conversa, percebe a questão do álcool - conta Ilana.
A psicóloga diz que as meninas costumam não saber ao certo o quanto bebem, porque misturam vodca com suco ou refrigerante para o sabor ficar mais doce.
De acordo com a psicóloga, o consumo é mais alto entre os adolescentes de maior poder aquisitivo e a frequência varia de duas a três vezes por semana. Antes da balada, eles costumam ainda fazer o “esquenta”:
- Os meninos pagam caro para entrar na balada. As meninas entram com convites gratuitos. E, lá dentro, há muitas garrafas de bebida a serem exterminadas em conjunto.
Para os rapazes, o consumo de álcool representa risco de envolvimento em episódios violentos, de brigas a acidentes de trânsito. As meninas, segundo Ilana, ficam “menos seletivas” para escolher com quem “ficar” e fazer sexo.
- Elas dizem que ficam com quem não ficariam se não estivessem bêbadas - conta.
Ela reconhece que o problema do álcool na adolescência é difícil, até porque os pais costumam não admitir que ele existe. A maioria, porém, entra em pânico quando o adolescente aparece com um “baseado”.
No Albert Einstein, todos os pacientes com 16 anos ou menos e que dão entrada pelo pronto-socorro são encaminhados à pediatria que, a partir deste mês, tem um protocolo especial de atendimento. Os cuidados não são apenas clínicos. Os pais são orientados sobre os riscos do consumo de álcool na adolescência. Nos casos mais graves, em que o jovem fica internado ou precisa de recursos de UTI, ele obrigatoriamente é avaliado por psiquiatras e psicólogos do Núcleo de Álcool e Drogas do hospital.
- Os pediatras perceberam que se tornou comum o atendimento a pacientes alcoolizados em idade muito precoce, com 13 ou 14 anos. Há casos de crianças de 12 anos. Eles chegam com intoxicação grave causada pela ingestão de álcool. Isso nos preocupa muito. É preciso detectar o que está acontecendo - afirma a psiquiatra Alessandra Maria Julião, do Núcleo de Álcool de Drogas do hospital.
O problema é reflexo do que acontece nas ruas. Baladas atraem jovens da classe A e B, com festas em que a bebida alcoólica é o chamariz. Sempre em grupo, eles são influenciados pelos amigos a deixar o refrigerante de lado e consumir o álcool já incluído no preço.
Há 15 dias, X., de 16 anos, foi a uma boate com amigos. Depois de ir ao banheiro, retornou à pista e, ao ver um rapaz de costas, avançou sobre ele, desferindo-lhe socos na cabeça. Os amigos do rapaz agredido passaram a bater em X., e os amigos de X. entraram na briga. Na semana passada, X. foi levado pelos pais ao consultório do psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química, professor da USP e presidente do Centro de Informação Sobre Saúde e Álcool (Cisa). O médico perguntou o que tinha acontecido.
- Ele disse que nunca tinha visto o outro antes, que foi uma bobagem: “Veio a vontade e fiz” - conta Andrade.
O especialista não identificou qualquer distúrbio grave no adolescente. O que lhe chamou a atenção foi que, naquela noite, X. havia ingerido muitas latinhas de cerveja. Para ele, o rapaz se encaixa no "padrão binge”, caracterizado pelo consumo excessivo em curto espaço de tempo: cinco doses - ou cinco latinhas, considerando idade e peso - num período de duas horas. Para as mulheres, o “binge” ocorre antes, a partir de quatro doses.
Todos são unânimes em afirmar que, nas baladas, há bebida alcoólica de sobra, a despeito das proibições previstas em lei.
- É um novo modelo de juventude, com muita liberdade para o álcool e o sexo. A balada é o novo local da paquera e eles estão expostos - diz Andrade.
O psiquiatra afirma que nenhum adolescente procura ajuda médica por causa do álcool. Em geral, vão ao consultório levados pelos pais, para tratar de outro problema associado, como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico.
- Tenho ainda um número razoável de pacientes com distúrbio de comportamento - diz.
Na adolescência, os neurônios se multiplicam. Segundo Andrade, exposto ao álcool, o cérebro vai amadurecer de forma menos eficiente. O raciocínio na fase adulta não será tão rápido:
- O rendimento acadêmico, sexual e social se tornará pior.
A psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), diz que no Brasil as bebida alcoólicas são baratas, e facilmente encontráveis. Os pais, por sua vez, não se sentem à vontade para proibir os filhos de consumi-las:
- Não dá para culpar os pais. Não somos como a sociedade chinesa, na qual os pais têm um alto nível de autoridade sobre os filhos. É preciso políticas públicas para enfrentar o problema.
No debate sobre o consumo de álcool na adolescência, tem chamado a atenção de Ilana o comportamento das meninas. Enquanto na fase adulta as mulheres bebem menos do que os homens, na adolescência, atualmente, elas estão consumindo o mesmo número de doses.
- É impressionante como elas bebem loucamente! Vão ao consultório por outros problemas, como ansiedade, mas, quando a gente conversa, percebe a questão do álcool - conta Ilana.
A psicóloga diz que as meninas costumam não saber ao certo o quanto bebem, porque misturam vodca com suco ou refrigerante para o sabor ficar mais doce.
De acordo com a psicóloga, o consumo é mais alto entre os adolescentes de maior poder aquisitivo e a frequência varia de duas a três vezes por semana. Antes da balada, eles costumam ainda fazer o “esquenta”:
- Os meninos pagam caro para entrar na balada. As meninas entram com convites gratuitos. E, lá dentro, há muitas garrafas de bebida a serem exterminadas em conjunto.
Para os rapazes, o consumo de álcool representa risco de envolvimento em episódios violentos, de brigas a acidentes de trânsito. As meninas, segundo Ilana, ficam “menos seletivas” para escolher com quem “ficar” e fazer sexo.
- Elas dizem que ficam com quem não ficariam se não estivessem bêbadas - conta.
Ela reconhece que o problema do álcool na adolescência é difícil, até porque os pais costumam não admitir que ele existe. A maioria, porém, entra em pânico quando o adolescente aparece com um “baseado”.
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