4.04.2012

Déficit de atenção é diagnosticado em excesso, diz pesquisa

TDAH

Profissionais tendem a dar início ao tratamento depois de um diagnóstico puramente intuitivo, deixando de lado critérios reconhecidos pela medicina

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade atinge entre 3% e 5% das crianças e pode acompanhar os portadores até a vida adulta O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade atinge entre 3% e 5% das crianças e pode acompanhar os portadores até a vida adulta (Jupiterimages)
A explosão no número de vendas de metilfenidato (aumento de 80% entre 2004 e 2008) – indicado para tratar o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – já dava pistas de que o transtorno estava sendo diagnosticado em excesso. Agora, um levantamento realizado na Alemanha e publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology, apresenta dados que confirmam o que se observava na prática clínica. Segundo o estudo, psicoterapeutas e psiquiatras infantis usam intuição e métodos não comprovados cientificamente para chegar ao diagnóstico do TDAH – e não critérios reconhecidos. O resultado é uma leva de crianças sendo tratadas inutilmente.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Is ADHD Diagnosed in Accord With Diagnostic Criteria? Overdiagnosis and Influence of Client Gender on Diagnosis

Onde foi divulgada: periódico Journal of Consulting and Clinical Psychology

Quem fez: Silvia Schneider, Jürgen Margraf e Katrin Bruchmüller

Instituição: Universidade de Basel e Ruhr-Universität Bochum

Dados de amostragem: 473 psicoteraupeutas e psiquiatras infantis

Resultado: O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é diagnosticado em excesso, principalmente entre meninos. Os erros costumam acontecer porque os profissionais se embasam na heurística, e não em critérios estabelecidos, para fechar o diagnóstico.
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De acordo com o estudo, realizado por uma equipe da Universidade de Bochum (no Vale do Ruhr, na Alemanha) e da Universidade de Basel, mais meninos que meninas são mal diagnosticados. Para o levantamento, foram entrevistados 1.000 profissionais, dos quais 473 foram convidados a diagnosticar e recomendar tratamento para um caso, entre quatro disponíveis. Em três dos quatro casos, os sintomas descritos não correspondiam ao transtorno. O gênero da criança foi ainda incluído em oito casos diferentes. Quando foram comparados casos idênticos, mas com crianças de gêneros distintos, o menino tendia a receber o diagnóstico de transtorno – e a menina não.
Diagnóstico — Durante a avaliação do paciente, psicoterapeutas e psiquiatras infantis tendem a usar métodos de diagnóstico não rigorosos, baseando suas decisões em sintomas vinculados a um modelo pré-definido. No caso, o modelo masculino indica sintomas como inquietação motora, falta de concentração e impulsividade. Isso significa que se uma menina tiver esses sintomas, as chances de ela não ser diagnosticada com TDAH são muito maiores do que as de um garoto. A pesquisa descobriu ainda que o gênero do especialista também é relevante: os profissionais homens dão com mais frequência diagnóstico positivo para o transtorno.
Entre 1989 e 2001, o número de casos positivos nas clínicas alemãs aumentou em 381%. Os custos da medicação para TDAH cresceram nove vezes entre 1993 e 2003 no país. A empresa de convênios médicos alemã Techniker, por exemplo, relata um aumento de 30% nas prescrições de metilfenidato para clientes entre seis e 18 anos.
Considerando essas estatísticas, há uma importante falta de pesquisa sobre o diagnóstico do TDAH. "Apesar do forte interesse público, poucos estudos empíricos tratam desse assunto", diz Silvia Schneider e Katrin Bruchmüller, responsáveis pelo estudo. Enquanto nas décadas de 1970 e 1980 uma "certa ascensão" de estudos sobre a frequência e as razões para os diagnósticos errados foi verificada, as pesquisas atuais dificilmente examinam esse fenômeno.

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