Quem são e o que pensam os jovens brasileiros que estão deixando sua marca na revolução digital
Conheça garotos e garotas que veem em nomes como Steve Jobs e Mark Zuckerberg modelos de como alcançar fama e fortuna antes dos 30 anos
Filipe Vilicic
MIKE KRIEGER | 26 anos - Aos 18 anos, o
paulistano Michel Krieger foi estudar na Universidade Stanford, nos
Estados Unidos, e hoje é modelo para os aspirantes a milionário do mundo
digital. Com 24 anos, criou o Instagram, rede social de
compartilhamento de fotos para smartphone. Estima-se que sua empresa já
valha 500 milhões de dólares. Krieger é apaixonado por computação desde
criança: “Para minha geração, não há mais uma divisão clara entre o que é
estar off-line ou on-line. Sempre estamos on-line”. Hoje, ele fecha
contratos com cifras de vários dígitos, mas mantém o estilo informal que
marca os jovens prodígios do universo dos bytes. Só trabalha de jeans e
tênis e vai para seu escritório de bicicleta
(Gilberto Tadday)
Michel Krieger faz parte da geração que cresceu no mundo digital. Ele
nasceu nove anos depois de Steve Jobs e Steve Wozniak apresentarem o
primeiro computador pessoal, o Apple II, em 1977. Tinha 17 anos quando
estreou o Facebook e 21 no lançamento do iPhone. Aos 26, esse
paulistano, que por comodidade é conhecido como Mike nos Estados Unidos,
é um dos inovadores da computação e um milionário do Vale do Silício,
onde mora. Michel Krieger é o criador do Instagram, um aplicativo feito
para o iPhone que reinventa o tradicional álbum de família. Uma rede
social na qual se podem compartilhar fotos com amigos, o programa
permite que se adicione uma série de efeitos especiais às imagens. Como
no Facebook, as imagens são automaticamente mostradas para os seguidores
de cada perfil. A cada segundo, sessenta fotos, vindas de todos os
quadrantes do globo, são transferidas para o programa. O sucesso do
Instagram é tanto que os 30 milhões de pessoas que aderiram a ele já
ganharam um apelido que as identifica como comunidade — são os
instagramers. Em dezembro, o aplicativo foi eleito pela Apple o melhor
para iPhone. Há um mês, Krieger viu sua empreitada chegar a um patamar
inédito — os analistas cravaram que sua empresa vale 500 milhões de
dólares. Para uma firma do mundo digital com apenas dois anos de vida,
alcançar esse valor é um feito extraordinário. Na terça-feira da semana
passada, o aplicativo ganhou uma versão para Android, o sistema
operacional do Google. O efeito foi igualmente estratosférico: apenas no
primeiro dia foi feito mais de 1 milhão de novos downloads do
Instagram.Vídeo: Novos talentos da computação
O criador do Instagram está entre os expoentes de um grupo de jovens brasileiros que encontraram na internet o passaporte para o sucesso precoce. São garotos e garotas que têm como ídolos nomes como Jobs e Mark Zuckerberg, criador do Facebook, e que veem neles modelos de como alcançar fama e fortuna antes dos 30 anos. Para conhecer melhor o que esses jovens pensam e como vivem, VEJA organizou uma mesa-redonda com cinco deles. Na conversa, eles falam sobre o envolvimento com a tecnologia e a reação da família às horas e mais horas que passam em frente a computadores, entre outros assuntos. O resultado pode ser lido a partir da página 98.
Michel Krieger tem o típico perfil dos talentos precoces da tecnologia. Ele diz que aos 6 anos já mexia nos códigos — a base de todos os programas de computador — de jogos do Windows para mudá-los. Mais tarde, brincava de aperfeiçoar programas como o navegador Firefox. Um estudo feito há cinco anos por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh em escolas americanas mostrou que crianças com aptidão para a computação têm características parecidas: resolvem problemas ligados a PCs desde pequenas, auxiliam colegas que não lidam bem com tecnologia, preferem trabalhar sozinhas e gostam de games que desafiam o intelecto. Krieger fala inglês desde criança e decidiu estudar nos Estados Unidos ao completar 18 anos. Lembra ele: “Apesar de gostar de tecnologia, não sabia o que queria na vida. Como nos Estados Unidos é normal mudar de curso no meio da graduação, resolvi vir para cá”.
Ele se formou na Universidade Stanford em symbolic systems, curso relativamente novo que une ciência da computação, psicologia e design. Na universidade, conheceu o colega Kevin Systrom. Os dois passaram a se encontrar em cafés de São Francisco, onde universitários e profissionais da área costumam se reunir para criar sites, softwares e aplicativos. Um dos programas desenhados por Krieger nos cafés era o Crime Desk, que usava a câmera e os serviços de GPS de smartphones para mapear crimes que ocorriam em São Francisco e indicar os locais mais perigosos da cidade. “Um dia, Kevin veio com o projeto de um aplicativo de fotos e disse que me queria como sócio. Topei na hora. Depois de alguns meses de trabalho e longas reuniões, criamos o Instagram”, resumiu ele a VEJA. Hoje, seu escritório no Vale do Silício abriga treze funcionários, todos jovens. Até o fim do ano, Krieger pretende aumentar a equipe para perto de 100 pessoas.
REGINA GOTTHILF | 25 anos - Regina se considera nerd,
com orgulho: é vidrada em videogames, computadores e redes sociais.
Indecisa quanto à profissão a seguir, estudou antropologia e
neurociência e pensou em ser diretora de cinema, mas capitulou diante do
gosto pela vida digital. Virou estrategista de redes sociais — um novo
tipo de profissional que cuida do perfil de clientes no Facebook e no
Twitter. Neste ano, foi convidada a representar o Tumblr, uma das
maiores redes sociais da web, fora dos Estados Unidos. “Na internet, não
veem quantos anos temos ou quem somos, e isso é uma grande vantagem”,
ela diz
Os jovens que vislumbram um futuro na área de tecnologia sonham, desde cedo, em seguir um caminho similar ao de Michel Krieger. O carioca Rafael Costa, que mora em Brasília, começou a aprender linguagens de programação — usadas para criar sites e softwares — aos 9 anos. Como a maioria de seus colegas, ele é autodidata. Para testar suas habilidades, brincava de infectar o computador de sua mãe com vírus. Quando a mãe lhe pedia ajuda, eliminava o vírus que ele mesmo havia criado. Hoje, aos 13 anos, já desenvolveu nove aplicativos para iPhone e iPad que estão à venda na loja da Apple. Rafael sonha alto: “Um dia serei bom o suficiente para criar um smartphone melhor que o iPhone”.
Em geral, os jovens da computação começam, assim como Rafael, atuando como hackers. Aprendem pela internet a invadir computadores, desbloquear smartphones e piratear arquivos. Suas escolas virtuais são os fóruns criados na web por hackers experientes. Muito do que fazem é tecnicamente ilegal, mas a maioria usa as invasões apenas como exercício. O Brasil é um dos maiores celeiros de hackers. De acordo com um relatório da Symantec, dona do antivírus Norton, o país é o quarto colocado em crimes cibernéticos no mundo.
Grandes ícones da computação começaram com o espírito de hackers. Zuckerberg e o brasileiro Eduardo Saverin, fundadores do Facebook, invadiram os servidores da Universidade Harvard, onde estudavam, para fazer um site que comparava a beleza das universitárias — daí saiu a inspiração para a maior rede social do mundo. Na adolescência, Jobs e Wozniak, da Apple, vendiam o que chamavam de “blue box” (caixa azul), um dispositivo que, à revelia da companhia telefônica, permitia realizar ligações gratuitamente. “É assim que aprendemos. No colégio, só ensinam mais do mesmo”, diz o carioca Pedro Franceschi, de 15 anos. Franceschi aprendeu as primeiras letras da programação aos 8 anos, pesquisando, sozinho, na web. Neste ano, projetou um aplicativo que faz Siri, a assistente virtual comandada por voz do iPhone 4S, entender português — na versão original, ela só funciona em inglês, alemão, francês e japonês. Ele justifica: “Procuro apenas melhorar a experiência das pessoas com a tecnologia”.
A ambição de ter a própria empresa é comum entre os talentos precoces da computação. De acordo com a consultoria UHY, o número de startups — pequenas empresas normalmente de tecnologia — no Brasil aumentou ao ritmo de 7% ao ano entre 2006 e 2010. É um crescimento maior que o verificado na China e nos Estados Unidos. Analisa Marcelo Sales, do fundo de investimentos 21212: “Na internet, tudo é globalizado, e um brasileiro pode montar aqui um aplicativo que terá repercussão no mundo inteiro. Isso encanta a garotada”. A 21212 é uma aceleradora de negócios digitais que capta recursos com investidores estrangeiros. Neste ano, pretende injetar 40 milhões de dólares em startups brasileiras. “Agora, o melhor é ficar no Brasil. Nos Estados Unidos eu competiria com todo o Vale do Silício”, diz o paulista Breno Masi, de 29 anos, criador da desenvolvedora de aplicativos FingerTips.
Masi montou seu negócio com o amigo Paulo Saito, de 25 anos. Ambos sempre foram fascinados por tecnologia. Após o lançamento do iPhone, em 2007, eles se destacaram como os primeiros a desbloquear o aparelho no Brasil. Depois, foram os primeiros do mundo a hackear o iPhone 3GS. “O smartphone só funcionava nos Estados Unidos, mas eu fazia com que pegasse em qualquer país. Michael Schumacher, o piloto de Fórmula 1, chegou a contratar um jatinho para me levar a Florianópolis apenas para desbloquear o celular dele”, lembra Breno. Ele e Paulo foram convidados a trabalhar na Apple, mas recusaram as ofertas e abriram a FingerTips. Os dois fecham contratos com cifras milionárias em reuniões em que não se dão ao trabalho de usar terno. Eles sempre seguem o uniforme-padrão dos vidrados em tecnologia: camisa, jeans e tênis. Michel Krieger, do Instagram, é outro que adota esse figurino. Ele também não sabe (e não quer saber) dirigir — prefere ir de bicicleta para seu escritório, em São Francisco.
A habilidade precoce dos brasileiros chama a atenção dos gigantes da área da computação. Em 2005, o Google abriu um escritório de engenheiros em Belo Horizonte. A equipe, que começou com dez pessoas, conta hoje com 100 profissionais, responsáveis por projetos globais. “Se até os anos 90 o brasileiro era obrigado a ir para o exterior para se destacar, agora são os estrangeiros que vêm para cá”, diz o brasileiro Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google na América Latina. Em sua equipe há engenheiros de muitas nacionalidades, como holandeses e franceses. Mas a maioria é de brasileiros. Neste ano desembarca no país a Amazon, líder mundial em e-commerce. Em janeiro, a Microsoft inaugurou em São Paulo seu maior centro de pesquisas na América Latina, com investimento de 10 milhões de dólares. No mundo digital, em que tudo é globalizado, essas empresas poderiam pesquisar e inovar sem sair de sua sede. Mas elas investem no país para atrair para suas equipes a garotada brasileira. Define Regina, a moça do Tumblr: “No mundo digital, não importam a nacionalidade nem a idade, mas o que se é capaz de fazer”.
PEDRO FRANCESCHI | 15 anos - Com apenas 12 anos,
Pedro tornou-se celebridade entre hackers de todo o mundo ao criar um
programa que desbloqueia o iPod Touch, o tocador de música da Apple. Há
quatro meses, ele deu um passo além: desenvolveu um aplicativo que faz
Siri, a assistente virtual comandada por voz do iPhone 4S, entender
português — o sistema sai da loja funcionando apenas em inglês, alemão,
francês e japonês. Autodidata em computação, Pedro acha o colégio “uma
chatice” e não faz questão de fazer faculdade, apesar de concordar que é
útil ter um diploma no currículo. Seu sonho é trabalhar na Apple ou no
Google. “Quero estar em uma empresa onde possa liderar inovações
tecnológicas que realmente façam diferença no dia a dia das pessoas”,
diz
Para entender o dialeto deles
O que significam os termos mais comuns usados pelos jovens prodígios da tecnologia Hacker: especialista em quebrar códigos de sites, desbloquear celulares e invadir sistemas virtuais. Não é necessariamente um criminoso. Pode usar suas habilidades para desenvolver programas, achar soluções de segurança ou estudar o mundo digital
Cracker: quem invade computadores e sistemas de segurança de forma antiética ou criminosa
Crack: software que modifica programas para remover métodos de proteção contra hackers
Script kid: termo depreciativo para hacker iniciante
Lamer: a antítese de um bom hacker. Sabe apenas o bê-á-bá da computação, mas se julga especialista
Black hat: usa os conhecimentos em tecnologia para praticar crimes. Bandido virtual
White hat: considerado o mocinho da web, desenvolve tecnologias que deixam a internet mais segura
Debug: programa que detecta falhas em softwares
Phreak: mescla das palavras phone e freak. É o hacker da telefonia
Trojan: programa que age como um cavalo de troia. Vem escondido em arquivos baixados da internet e serve de porta de entrada para invasores virtuais
Leet: código em que letras do alfabeto são substituídas por números e símbolos. Leet, por exemplo, vira I33t. É muito usado pelos mais experientes para confundir os iniciantes
O que significam os termos mais comuns usados pelos jovens prodígios da tecnologia Hacker: especialista em quebrar códigos de sites, desbloquear celulares e invadir sistemas virtuais. Não é necessariamente um criminoso. Pode usar suas habilidades para desenvolver programas, achar soluções de segurança ou estudar o mundo digital
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Crack: software que modifica programas para remover métodos de proteção contra hackers
Script kid: termo depreciativo para hacker iniciante
Lamer: a antítese de um bom hacker. Sabe apenas o bê-á-bá da computação, mas se julga especialista
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White hat: considerado o mocinho da web, desenvolve tecnologias que deixam a internet mais segura
Debug: programa que detecta falhas em softwares
Phreak: mescla das palavras phone e freak. É o hacker da telefonia
Trojan: programa que age como um cavalo de troia. Vem escondido em arquivos baixados da internet e serve de porta de entrada para invasores virtuais
Leet: código em que letras do alfabeto são substituídas por números e símbolos. Leet, por exemplo, vira I33t. É muito usado pelos mais experientes para confundir os iniciantes
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