1.11.2014

Efeito placebo ajuda no combate à enxaqueca

Dor

Pesquisa de Harvard mostrou que pacientes relataram algum alívio da dor ao ingerir pílulas falsas - mesmo quando sabiam se tratar de placebo

Enxaqueca: Dor diminuiu quando paciente acredita que está recebendo tratamento eficaz, mesmo quando recebe placebo
Enxaqueca: Dor diminuiu quando paciente acredita que está recebendo tratamento eficaz, mesmo quando recebe placebo (Thinkstock)
O sucesso de um tratamento contra algum problema de saúde não depende somente da ação do medicamento, mas também da expectativa que o paciente tem em relação aos resultados – se serão positivos ou negativos. E essa expectativa pode influenciar o tratamento mesmo se um paciente sabe que está tomando placebo em vez de remédio. É o que comprova um novo estudo americano sobre enxaqueca, publicado nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine.

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PLACEBO
O placebo é concebido como algo que imita um tratamento médico, mas não é, de fato, um tratamento verdadeiro — como uma pílula de açúcar, injeções salinas e cirurgias de mentira. Os medicamentos placebos geralmente têm o mesmo formato, cheiro, cor e apresentação do remédio de verdade. Embora os placebos não tenham ingredientes ativos, pesquisas sugerem que eles podem aliviar sintomas de determinadas condições médicas.
Segundo os pesquisadores, grande parte da expectativa dos pacientes em relação ao sucesso de um tratamento é gerada pelas informações que o médico passa sobre a terapia prescrita. Por isso, o estudo revela aos profissionais que aumentar a confiança dos pacientes eleva a eficácia de um remédio. "O sucesso de uma terapia significa crises de enxaquecas menos duradouras e, consequentemente, uma menor necessidade de medicamentos", diz Rami Burstein, um dos autores do estudo.

 O novo efeito placebo

Efeitos — Na nova pesquisa, a equipe comparou o efeito de remédios e placebo em diversos ataques de enxaquecas sofridos por 66 pacientes – ao todo, foram 450 crises ao logo do estudo.
Inicialmente, os pacientes não receberam nenhum tratamento para controlar a enxaqueca. Eles relataram as dores que sentiam 30 minutos e 2h30 após o início da crise. Nos episódios seguintes de crise, os participantes foram submetidos a um entre quatro procedimentos: receberam um medicamento contra enxaqueca sabendo que estavam tomando um remédio; receberam o medicamento pensando que fosse um placebo; tomaram um placebo pensando que fosse um remédio; e tomaram um placebo sabendo que era placebo.
O alívio da dor mostrou-se maior entre os pacientes que foram informados estar tomando uma droga de verdade, em comparação aos que achavam que fosse placebo – embora o medicamento fosse real. Além disso, a melhora nos sintomas foi igual tanto quando os participantes tomaram o remédio achando que fosse placebo, quanto nos casos em que receberam placebo pensando que fosse uma droga ativa. "Isso demonstra que o placebo é um parceiro não reconhecido de remédios potentes", diz Ted Kaptchuk, diretor do Programa em Estudos do Placebo e Encontro Terapêutico, onde o estudo foi feito.

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A pesquisa também observou que os pacientes que receberam placebo, mesmo quando sabiam o que estavam tomando, relaram um maior alívio da dor em comparação àqueles que não foram submetidos a nenhum tipo de terapia. "Contrariando a sabedoria convencional de que o tratamento funciona porque os pacientes acreditam receber uma medicação ativa, nossos achados reforçam a ideia de que o tratamento com placebo aberto (quando os pacientes sabem) também pode ter um benefício terapêutico", escreveram os autores no artigo.
O Programa em Estudos do Placedo e Encontro Terapêutico pertence ao Centro Médico Beth Israel Deaconess, filiado à Faculdade de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. Criado em 2011, o programa é o primeiro dedicado a pesquisar os efeitos do placebo de uma forma interdisciplinar, envolvendo diversas áreas da ciência.

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