Folha publica reportagem que vinha
sendo apurada por Felipe Recondo, do Estadão, que foi chamado de
"palhaço" pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e
ainda assim engavetou sua apuração; STF irá gastar uma pequena fortuna
para colocar materiais de primeira qualidade, em mármore e granito, nos
banheiros do apartamento funcional de 523 metros quadrados, em Brasília;
Barbosa também terá uma adega de luxo; como diria o conde de Buffon, "o
estilo é o homem"
247 -
Incumbido de cobrir o Poder Judiciário para o jornal Estado de S.
Paulo, o repórter Felipe Recondo foi chamado de "palhaço" e acusado de
chafurdar no lixo, pelo presidente do Supremo Tribunal, Joaquim Barbosa,
quando se dedicava a apurar gastos determinados pela presidência da
suprema corte. Num capítulo que envergonha a história do jornal, o
Estadão decidiu não comprar a briga com o presidente da suprema corte,
que, para os Mesquita, deveria ser mantido no pedestal de herói por ter
conduzido o julgamento da Ação Penal 470 e, especialmente, por ter
liderado a condenação de lideranças do PT, como José Dirceu e José
Genoino.
Um dos pontos da
reportagem de Recondo, engavetada pelo Estadão, era a reforma
determinada pelo STF no apartamento funcional de Joaquim Barbosa – um
imóvel de 523 metros quadrados, em Brasília, antes ocupado por Carlos
Ayres Britto.
O tema, no entanto, foi
retomado pela Folha, em sua edição deste sábado. E Barbosa, que critica
gastos supostamente desnecessários do Poder Judiciário, decidiu gastar
R$ 90 mil com a reforma de seus banheiros, pedindo peças de primeira
qualidade, em mármore e granito.
Leia, abaixo, o texto de Andreza Matais e Rubens Valente:
STF gasta R$ 90 mil em reforma para Joaquim Barbosa
DE BRASÍLIA
O STF (Supremo Tribunal
Federal) gastará R$ 90 mil para reformar, com material de "primeira
qualidade", os quatro banheiros do apartamento funcional que o
presidente da corte, Joaquim Barbosa, ocupará a partir de julho.
O presidente do STF
decidiu mudar do apartamento funcional que já ocupa na Asa Sul, em
Brasília, para um mais amplo, de 523 metros quadrados, na mesma região.
A futura residência do
ministro, com cinco quartos, quatro salas, biblioteca e adega, era
ocupada até o final do ano passado pelo ministro Ayres Britto, que se
aposentou do STF em novembro
Do total da obra, R$ 78
mil serão pagos à empresa que venceu um pregão eletrônico na semana
passada e outros R$ 12 mil sairão de contratos com outras empresas já em
andamento, na instalação de vidros, espelhos e uma banheira, que será
adquirida, segundo o STF, com recursos próprios de Barbosa.
O primeiro valor equivale
ao custo total da construção de uma residência de 32 metros quadrados
do programa Minha Casa Minha Vida.
O edital do pregão prevê a
aquisição de 23 peças em mármore e granito por R$ 15,5 mil. Um terço
desse valor irá para uma prateleira e uma bancada. Assento e tampo dos
quatro vasos sanitários custarão R$ 396 cada.
Na presidência do STF e do CNJ, Barbosa adota um rigoroso discurso de contenção de despesas do Judiciário.
Na semana passada,
envolveu-se em polêmica com entidades de juízes, ao criticar gastos
desnecessários com a criação de Tribunais Regionais Federais.
Segundo o STF, a reforma
será feita por conta do "desgaste pelo tempo de uso". A corte nega que
tenha partido de Barbosa a ordem para a reforma, mas não apontou o
responsável pelo lançamento do edital, ocorrido durante a atual gestão.
De acordo com a
assessoria, a exigência de materiais de "primeira qualidade, sem
manchas, defeitos ou imperfeições" foi feita "para evitar o fornecimento
de materiais inadequados ou de qualidade duvidosa".
A Globo e Joaquim Barbosa são um caso indefensável de conflito de interesses
Com seu filho executivo na Globo, JB fica moralmente impedido de julgar coisas relativas à Globo.
Devem imaginar que nós somos idiotas, a Globo e Joaquim Barbosa.
Não há outra explicação.
Como pode a Globo dar emprego ao filho de JB? E como JB pode deixar que isso ocorra?
Neste exato momento, a Globo enfrenta uma questão multimilionária na Receita Federal. Documentos vazados – demorou para que isso ocorresse – por alguém da Receita contaram uma história escabrosa.
Os documentos revelam, usemos a palavra certa, uma trapaça. Com o uso de um paraíso fiscal, a Globo fingiu que estava fazendo uma coisa quando comprava os direitos de transmissão da Copa de 2002.
A Globo admitiu a multa que recebeu da Receita. E em nota alegou ter quitado a dívida.
Mas a fonte da Receita disse que não é verdade. E pelo blog O Cafezinho, que trouxe o escândalo, desafiou a Globo a mostrar o recibo.
Apenas para constar.
O dinheiro que a Globo não recolheu constrói escolas, hospitais, portos, aeroportos etc etc.
Mas, não pago, ele termina na conta dos acionistas.
Foi, além do mais, usado um paraíso fiscal, coisa que está dando prisão na Europa hoje em dia.
Isto tudo posto, vamos supor que uma questão dessas termine no STF.
Qual a isenção de JB para julgar?
É uma empresa amiga: emprega o filho dele.
Dá para julgar?
E a sociedade, como fica?
Gosto de citar um dos maiores jornalistas da história, Joe Pulitzer. Às equipes que chefiei, citava exaustivamente uma frase que é vital para o exercício do bom jornalismo.
“Jornalista não tem amigo”, escreveu Pulitzer.
O que Pulitzer dizia: se você tem amigos, você não vai tratá-los com a neutralidade devida como repórter ou editor.
A Globo está cheia de amigos, e esta é uma das razões pelas quais seu jornalismo é tão viciado – e seus donos tão ricos.
Mas as amizades de JB são ainda mais preocupantes, dado o cargo que ele ocupa.
A Justiça brasileira é um problema dramático. Recentemente, os brasileiros souberam das estreitas relações entre o ministro Fux, também do Supremo, e um dos maiores escritórios de advocacia do Rio.
Sua filha, advogada, é empregada deste escritório. Como Fux pode julgar uma causa deste escritório?
Não pode.
Há um claro conflito de interesses.
O mesmo vale para Joaquim Barbosa.
Quem acredita que ele não enxergou o conflito de interesses no emprego dado a seu filho na Globo acredita em tudo.
É um caso tão indefensável que a Globo, inicialmente, negou a informação, obtida pela jornalista Keila Jimenez, da Folha. Procurada, a Globo, diz a Folha, negou a contratação. Disse que o filho de JB fora “apenas fazer uma visita ao Projac”.
Só depois admitiu.
É uma história particularmente revoltante quando se lembra a severidade com que JB comandou o julgamento do Mensalão.
Ele fez pose de Catão com suas catilinárias anticorrupção, e impressionou muitos brasileiros que podem ser catalogados na faixa dos inocentes úteis.
Mas se fosse Catão não permitiria que seu filho trabalhasse na Globo. Não pagaria – como revelou o Diário – com dinheiro público a viagem de uma jornalista do Globo para uma viagem de completa irrelevância para a Costa Rica, apenas para obter cobertura positiva do jornal.
Não usaria, como se soube agora, recursos públicos para ver um jogo do Brasil num camarote de apresentadores – claro – da Globo.
E provavelmente Catão também jamais gastasse o equivalente a 90 000 reais, em dinheiro do contribuinte, para uma reforma.
Joaquim Barbosa não tem autoridade moral para ocupar o cargo que ocupa: infelizmente os fatos são claros.
Ele é um drama, uma calamidade nacional.
Sêneca dizia que era mais fácil começar uma coisa errada do que depois resolvê-la.
A nomeação de JB por Lula – que procurava um juiz negro para o Supremo — foi um erro monumental.
Resolvê-lo agora é uma enorme, uma trágica dificuldade.
PS do Viomundo: Apenas um reparo: os casos da Globo raramente chegam ao Supremo; morrem em instâncias inferiores, quando chegam lá. A Globo é maior símbolo da impunidade existente no Brasil.
Leia também:
Paulo Nogueira: Joaquim Barbosa impedido de julgar casos da Globo
publicado em 5 de julho de 2013 às 18:56
A Globo e Joaquim Barbosa são um caso indefensável de conflito de interesses
Com seu filho executivo na Globo, JB fica moralmente impedido de julgar coisas relativas à Globo.
Devem imaginar que nós somos idiotas, a Globo e Joaquim Barbosa.
Não há outra explicação.
Como pode a Globo dar emprego ao filho de JB? E como JB pode deixar que isso ocorra?
Neste exato momento, a Globo enfrenta uma questão multimilionária na Receita Federal. Documentos vazados – demorou para que isso ocorresse – por alguém da Receita contaram uma história escabrosa.
Os documentos revelam, usemos a palavra certa, uma trapaça. Com o uso de um paraíso fiscal, a Globo fingiu que estava fazendo uma coisa quando comprava os direitos de transmissão da Copa de 2002.
A Globo admitiu a multa que recebeu da Receita. E em nota alegou ter quitado a dívida.
Mas a fonte da Receita disse que não é verdade. E pelo blog O Cafezinho, que trouxe o escândalo, desafiou a Globo a mostrar o recibo.
Apenas para constar.
O dinheiro que a Globo não recolheu constrói escolas, hospitais, portos, aeroportos etc etc.
Mas, não pago, ele termina na conta dos acionistas.
Foi, além do mais, usado um paraíso fiscal, coisa que está dando prisão na Europa hoje em dia.
Isto tudo posto, vamos supor que uma questão dessas termine no STF.
Qual a isenção de JB para julgar?
É uma empresa amiga: emprega o filho dele.
Dá para julgar?
E a sociedade, como fica?
Gosto de citar um dos maiores jornalistas da história, Joe Pulitzer. Às equipes que chefiei, citava exaustivamente uma frase que é vital para o exercício do bom jornalismo.
“Jornalista não tem amigo”, escreveu Pulitzer.
O que Pulitzer dizia: se você tem amigos, você não vai tratá-los com a neutralidade devida como repórter ou editor.
A Globo está cheia de amigos, e esta é uma das razões pelas quais seu jornalismo é tão viciado – e seus donos tão ricos.
Mas as amizades de JB são ainda mais preocupantes, dado o cargo que ele ocupa.
A Justiça brasileira é um problema dramático. Recentemente, os brasileiros souberam das estreitas relações entre o ministro Fux, também do Supremo, e um dos maiores escritórios de advocacia do Rio.
Sua filha, advogada, é empregada deste escritório. Como Fux pode julgar uma causa deste escritório?
Não pode.
Há um claro conflito de interesses.
O mesmo vale para Joaquim Barbosa.
Quem acredita que ele não enxergou o conflito de interesses no emprego dado a seu filho na Globo acredita em tudo.
É um caso tão indefensável que a Globo, inicialmente, negou a informação, obtida pela jornalista Keila Jimenez, da Folha. Procurada, a Globo, diz a Folha, negou a contratação. Disse que o filho de JB fora “apenas fazer uma visita ao Projac”.
Só depois admitiu.
É uma história particularmente revoltante quando se lembra a severidade com que JB comandou o julgamento do Mensalão.
Ele fez pose de Catão com suas catilinárias anticorrupção, e impressionou muitos brasileiros que podem ser catalogados na faixa dos inocentes úteis.
Mas se fosse Catão não permitiria que seu filho trabalhasse na Globo. Não pagaria – como revelou o Diário – com dinheiro público a viagem de uma jornalista do Globo para uma viagem de completa irrelevância para a Costa Rica, apenas para obter cobertura positiva do jornal.
Não usaria, como se soube agora, recursos públicos para ver um jogo do Brasil num camarote de apresentadores – claro – da Globo.
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