Contribuiu para a epidemia de violência o fato de o Estado ter a menor relação de policiais por habitante no Brasil
AE
O descaso, a falta de vagas e de investimento no sistema
penitenciário também já vinham sendo apontados pelas autoridades, como
nos mutirões feitos pelo Conselho Nacional de Justiça. As penitenciárias
são precárias e superlotadas. Há 1,9 preso por vaga no sistema
maranhense, proporção que coloca as prisões do Estado no 7.º lugar entre
as mais lotadas do País, índice semelhante ao de São Paulo.
Apesar da superlotação do sistema maranhense, contudo, o Estado tem
100,6 presos por 100 mil habitantes, a menor proporção do Brasil. "O
modelo de segurança pública no Estado está falido", diz o advogado Luiz
Antonio Pedrosa, da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Maranhão. "As
facções criminosas se formaram e conseguiram um amplo espaço para
avançar em um Estado com problemas sociais dramáticos."
O problema da violência no Maranhão dentro e fora dos presídios se
agravou a partir de 2010, quando foi anunciada pelos presos a criação do
Primeiro Comando do Maranhão (PCM). A facção rival, Bonde dos 40,
surgiu logo na sequência. O enfrentamento entre os grupos se acentuou
nos meses seguintes, em um ambiente penitenciário sem controle, com uma
frágil política de segurança pública.
Erro
A secretária estadual de Direitos Humanos e Assistência Social,
Luiza de Fátima Amorim Oliveira, admite o que o governo errou.
"Infelizmente, nós falhamos, houve um erro de gestão nesse sentido",
disse ela, que foi ao enterro ontem da menina Ana Clara de Sousa, de 6
anos, que estava em um ônibus incendiado por criminosos e teve 95% do
corpo queimado.
Luiza afirma que, nesse momento, a ajuda do governo federal e de
outros órgãos é fundamental. "Não tem como resolver sozinho essa
situação. É preciso conjugar esforços, para que não aconteça mais",
disse. O governo estadual tenta mostrar que faz a sua parte prendendo
suspeitos de participar dos ataques a delegacias e a ônibus. "A
repressão já está sendo feita. Os adolescentes (envolvidos nos crimes)
foram presos."
Agora, segundo Luiza, é preciso cuidado para que não seja
alimentada a espiral de violência, tanto nas prisões quanto nas unidades
socioeducativas, onde o modelo de facções também se repete. "Quando
eles (presos) ficaram cientes de que a Ana Clara morreu, começou uma
retaliação, uma pressão interna contra esses adolescentes que estão lá.
Então, nós tivemos de separá-los", diz.
Críticas
Nas prisões, parentes de suspeitos de participar da nova onda de
ataques acusam o governo do Estado de fazer prisões arbitrárias só para
dar uma resposta à sociedade. A cozinheira Lucicleide Melônio do
Nascimento, de 39 anos, afirma que o filho dela, Luís Gustavo Melônio,
18, foi preso injustamente. Ele foi detido sob suspeita de atirar em uma
delegacia no bairro São Francisco, em São Luís. "Ele já tinha carteira
assinada, ia prestar concurso. Agora, apareceu em rede nacional, já foi
condenado", disse. "E pode ser mais um morto, porque nós sabemos, o País
todo sabe, o que acontece nos presídios do Maranhão." As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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